A praia portenha

Desde que chegamos a Buenos Aires, todos nos metiam medo: “Sofrendo com o inverno? Espera só até chegar o verão”. Eu tinha uma vaga ideia de que fazia muito calor na capital portenha (estive aqui pela primeira vez em janeiro de 2005), mas não lembrava muito bem. A verdade é que o verão de Buenos Aires é para os fortes. A praia mais próxima, San Clemente de Tuyu, fica a mais de 300km e, dizem, não é grande coisa. Dá pra entender a invasão dos hermanos a Floripa e adjacências. Coitadinhos.

A praia portenha

Com uma temperatura média de 30 graus e muita umidade, por conta do rio, tudo o que um portenho sonha é escapar dessa cidade no verão. O Ministério do Turismo daqui estimou que 2 milhões de argentinos iriam veranear nas praias brasileiras este ano. Mas o que pouca gente sabe – principalmente os brasucas que fazem o caminho inverso e vêm turistar aqui nesta época – é que a capital conta com uma praia urbana, a primeira da América Latina. Ou seja: quem quis ou foi obrigado a passar janeiro e fevereiro nessas bandas não ficou a ver navios.

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Inspirada em iniciativas semelhantes em capitais como Paris, Roma, Berlim e Tóquio, a praia portenha foi inaugurada em 2009, quando o atual presidente Maurício Macri era prefeito da cidade, e já recebeu mais de 3 milhões de veranistas. 300 mil só nestas primeiras semanas de 2016.

O projeto – que dura até o dia 28 de fevereiro, último domingo antes da volta às aulas – acontece em duas “sedes” administradas pelo governo da cidade de Buenos Aires: uma na zona norte, no bairro de Nuñez (Parque de los Niños), outra no sul (no chamado Parque Indoamericano, em Villa Soldati). Também há 11 solariums espalhados por várias praças e parques da cidade (confira aqui todos os endereços).

Como estamos na zona norte, visitamos somente a primeira, que tem vista para o rio e uma infra-estrutura mais completa. Confesso que tinha certo preconceito e achava que seria meio decadente, mas ficamos surpresos: a praia portenha é muito mais legal do que imaginávamos.

Tudo bem que ali não é possível tomar banho de mar, surfar ou beber água de coco, mas dá para tomar banho de sol, ver o Rio da Prata – separado por uma mureta -, se refrescar nos chuveiros públicos e praticar esportes na areia. Pescar não é permitido, mas nem todos respeitam a lei ou estão preocupados com a contaminação do rio. Também não é permitido entrar com bebidas alcoólicas, nem com animais.

O Parque de los Niños (“parque das crianças”) conta com guarda-sóis, espreguiçadeiras, canchas de futebol e volei, brinquedos para a criançada, espetáculos ao vivo (nos finais de semana), aulas de aeróbica e de dança (às terças, quartas e quintas), ping-pong e pebolim, aulas e torneios de xadrez, biblioteca com mais de 500 títulos para empréstimo, wi-fi livre e muitas outras atrações. Tudo grátis. Para emprestar livros, bolas, raquetes e outros itens é só apresentar um documento com foto, que será entregue na devolução.

Se você está no contra-fluxo dos argentinos veraneando nas praias de Santa Catarina, aproveite para curtir um dia na praia portenha. Principalmente se você vem com crianças.

O Parque de los Niños fica na avenida Cantilo, no cruzamento com a rodovia General Paz (que separa a capital da província). O único ônibus que chega até lá é o 28 (Ramal Puente Saavedra – Ciudad Universitaria), mas você pode pegar um metrô até a última estação da linha D, Congresso de Tucumán, e de lá pegar um táxi, que é perto. Também dá pra ir de carro ou de bicicleta (há estacionamento para ambos). O horário de funcionamento é de terça a domingo das 10h às 20h.

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