El Clan e a aventura de ver um filme no Gaumont

Estamos há pouco mais de um mês em Buenos Aires e, pelas minhas contas, já fomos ao cinema seis vezes. No Brasil, geralmente é preciso entrar num shopping para ver uma película, mas aqui em Buenos Aires ainda há muitas salas de rua remanescentes. E a minha preferida é, sem dúvida, o lendário Cine Gaumont.

El Clan e a aventura de ver um filme no Gaumont

Em março de 1912, quando nenhum de nós aqui tinha nascido e a invenção do cinema não tinha completado nem 20 anos, inaugurou-se em Buenos Aires o Cine Congresso Plaza. Dez anos depois ele seria rebatizado de Gaumont em homenagem ao francês León Gaumont, um dos pioneiros do cinema como indústria.

Cine Gaumont
Do tempo em que o Gaumont só exibia filme mudo. (Foto: AGN)

O endereço é o mesmo há 103 anos, a avenida Rivadavia, 1635, de cara para a praça do Congresso. Depois de ser demolido em 1938, inaugurado de novo em 1946, reformado muitas vezes e quase ter fechado em 2012, a sala queridinha dos argentinos reabriu há dois anos com tecnologia digital, poltronas novas e maior conforto. Mas o ingresso continua mais barato do que um café cortado: só 8 pesos (2 reais).

Cine GaumontÉ neste lugar cheio de história que o Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales criou em 2003 a sala inaugural do programa Espacios INCAA, dedicada à promoção do cinema argentino. Meio milhão de espectadores passam por ali todo ano. Incluindo nós. Seis vezes só este mês.

El clan
Fila dando volta na quadra (Foto: Luiz Apolonio)

Mas não pensem que é fácil assistir a um filme ali, sobretudo quando se trata do maior sucesso de bilheteria da história do cinema argentino. Falo de El Clan, novo filme de Pablo Trapero, que fez 1,5 milhão de espectadores nos dez primeiros dias de exibição e superou o arrasa-quarteirão do ano passado, Relatos Selvagens. Tudo isso (pasmem!) sem Ricardo Darín no elenco. Na semana da estreia os ingressos eram mais disputados que medialuna saindo do forno, o que nos obrigou a esperar vários dias e enfrentar as piores filas para conferir o que, afinal, aquela história tinha de tão impressionante.

El clan
Depois de caminhar 15 quadras no frio. Muchas gracias.

Argentinos adoram ver seus dramas na telona, e este era dos mais aguardados do ano, pois contava um caso verídico que escandalizou e comoveu o país na década de 1980 (muy estrategicamente, a película estreou justo no mês em que o episódio completou 30 anos).

Imagine que uma família comum de San Isidro, região pacata da grande Buenos Aires, ganhava a vida sequestrando vizinhos e pedindo resgates milionários aos parentes das vítimas. Isso, numa época em que o país estava saindo de uma das ditaduras mais brutais do continente, e sequestros políticos ainda eram algo comum – o filme, aliás, mostra que o chefe do clã tinha uma estranha relação de “brodagem” com os militares, o que facilitou bastante as coisas.

El clan
Os Puccio de verdade.

Para além da frieza dos crimes, que geralmente acabavam em assassinato, é chocante a reação do patriarca psicopata quando a casa cai pra ele. Arquímedes Puccio nunca assumiu a responsabilidade pelos sequestros e não deu a mínima pelota pra família quando a turma foi incriminada, por culpa dele. O filho Alejandro tentou se matar várias vezes, a primeira delas numa das cenas mais surpreendentes do filme (pelo menos pra mim, que não conhecia a história real).

Discordo de muitas escolhas estéticas do diretor (entre outras coisas, o uso exagerado de trilha sonora me incomodou pacas), mas achei bem acertada a ideia de narrar esse drama policial quase épico do ponto de vista da conturbada relação entre pai e filho.

El clan
Os Puccio no cinema.

Dá uma olhada no trailer oficial abaixo, se quiser ir a fundo, confira também com Pablo Trapero. El Clan deve estrear em breve no Brasil, mas vá por mim: nada como assisti-lo no Cine Gaumont lotado, com a plateia comovida aplaudindo durante os créditos.

Além do longa-metragem, estreou essa semana na televisão argentina a série em 11 episódios Historia de un clan. Ricardo Darín tampouco está no elenco, mas seu filho (guapísimo!) está, o que mostra que o clã Darín também tem um poder e tanto.

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1 comentário em “El Clan e a aventura de ver um filme no Gaumont”

  1. Show de bola o relato. Curioso e na espera pelo filme….

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