Em janeiro de 2016 (dia 3, segundo o La Nación; dia 15, segundo o Clarín), o lendário edifício Kavanagh completa 80 anos de história. Quando foi inaugurado, em 1936, ganhou o título do mais alto da América Latina, com seus 31 andares e 120 metros de altura, superando os 100 metros do Palácio Barolo. Mas não foi isso que o fez famoso. Afinal, havia algo por trás de sua construção. Nada menos que uma vingança amorosa.
(Som rasgado de bandoneon para encerrar o prólogo dramático.)
Edifício Kavanagh ou O tamanho de uma vingança
Se William Shakespeare quisesse ambientar Romeu e Julieta na Argentina, é provável que seus Capuleto e Montecchio se chamassem, respectivamente, Kavanagh e Anchorena.
A história é bem conhecida dos portenhos (e de quem faz o passeio Lado B do Aires Buenos Tour, claro!). Conta-se que Corina Kavanagh, uma milionária descendente de irlandeses, iria casar com o jovem Aarón Anchorena, mas a família do rapaz proibiu a união por ela não ser de origem patrícia (ou seja, uma nobre legítima). Para vingar o orgulho ferido dos Kavanagh, Corina resolveu erguer um prédio que obstruísse totalmente a vista que os Anchorena tinham da basílica do Santíssimo Sacramento, construída para guardar os restos mortais da família. Dito e feito: desde então, só se pode ver a fachada da igreja a partir da Pasaje Corina Kavanagh. Muy sarcástica, não?
A obra em concreto armado e de arquitetura racionalista levou 14 meses para ser levantada, um record para a época. O fato é que, ao ocultar a basílica, o edifício conseguiu uma vista em 360 graus do Rio da Prata, de Puerto Madero e de uma das praças mais charmosas de Buenos Aires, a San Martín, em Retiro. Não à toa o metro quadrado, hoje, está avaliado em 3.500 dólares – o menor apartamento tem 140m2, enquanto o maior, que antes pertenceu à própria Corina, chega a 726. O condomínio fica na faixa de 10 mil pesos (cerca de R$ 2.300), mas pelo menos não é preciso pagar imposto de ABL (o IPTU deles), já que o Kavanagh foi declarado Monumento Histórico Nacional em 1999. Ele também integra o Patrimônio Mundial de Arquitetura Moderna, da Unesco.
Seus arquitetos, o trio Gregorio Sánchez, Ernesto Lagos e Luis María de la Torre também assinam outro edifício racionalista na esquina das ruas Lafinur e Libertador, e outro no cruzamento da avenida Córdoba com a Libertad, além do Automóvel Clube Argentino.
Algumas curiosidades levantadas pelo jornal La Nación: este foi o primeiro edifício portenho a contar com ar-condicionado central – provavelmente por ter sido inaugurado em janeiro, o mês mais infernal de todos. Porém, apesar de ter 5 suítes, 12 elevadores e terraços com jardim, não tem garagem nem portaria eletrônica (os visitantes são anunciados a cada apartamento por telefone). Conta-se, ainda, que havia ali uma câmara fria para conservar tapetes e peles, veja só. O jornal Clarín apurou outra informação curiosa: segundo sua moradora mais antiga, Emma Oría, de 95 anos, antigamente havia uma passagem subterrânea que ligava o prédio ao Plaza Hotel. “Nós íamos lá tomar chá da tarde e usar os salões de beleza”, lembrou em uma entrevista.
Quando passar pelo bairro de Retiro, não deixe de visitar a basílica – que, mesmo escondidinha, é preciosa – e o antigo Palácio San Martín, onde antes viviam os Anchorena e hoje é a sede cerimonial da Chancelaria portenha. Seja pelos rumores envolvendo sua construção, seja por sua importância arquitetônica, este edifício é um dos muitos mitos de Buenos Aires.
Edifício Kavanagh – Calle Florida, 1065
Basílica del Santíssimo Sacramento – San Martín 1035
Palácio San Martín – Arenales, 761
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Sou jornalista e tradutora brasileira, e há doze anos visito regularmente Buenos Aires. Em agosto de 2015 vim pra cá de mala e cuia para passar uma longa temporada. Livros, cinema e cultura em geral são meus assuntos preferidos. Você pode acompanhar minhas andanças aqui no Aires Buenos e também no Medium.