Lemos no jornal Clarín que no sábado, 3 de outubro, começaria a primeira Semana del Copetín Porteño (o termo, que em espanhol quer dizer aperitivo, vem do genovês cuppetin). A ideia da Cámara de Cafés y Bares da cidade é recuperar um hábito dos imigrantes italianos e espanhóis que foi se perdendo com os anos, o de tomar um aperitivo alcoólico acompanhado de acepipes antes da refeição.
Até a próxima segunda-feira, 12 de outubro, 70 bares da capital portenha participam do evento servindo praticamente a mesma coisa: amendoim salgadinho, cubos de queijo e presunto e um drinque à base de Gancia, espécie de vermute que é uma das bebidas mais clássicas da Argentina. Tudo por um preço muito do camarada, mas somente das 19h às 22h.
Nos bares clássicos, o drinque é a base de Americano Gancia e o “combo” sai por $50. Nos notables, a bebida é preparada com Gancia Red Bitter (a $60) e, nos bares modernos, o trago é com Gancia Spritz ($80). Decidimos aproveitar a deixa para conhecer dois lugares supertradicionais de Buenos Aires – onde provavelmente não teríamos grana para botar os pés se não fosse pela promoção.
O copetín portenho em 2 bares notáveis
A primeira parada foi a Confitería del Hotel Castelar, bar e restaurante que fica (naturalmente) dentro do Hotel Castelar, e que desde 2004 integra a cobiçada lista dos quase noventa “notáveis” da cidade (segundo o artigo 2 da lei 35/98, notável é todo bar ou café com valor patrimonial próprio por sua cultura, arquitetura, antiguidade ou relevância local. Eis aqui a lista completa.)
Erguido em 1929 na charmosa Avenida de Mayo, o hotel Castelar evoca uma época áurea da Argentina (ah, os anos 1930…) e é famoso por ter sido a morada do poeta espanhol Federico García Lorca. O quarto 704, onde ele viveu por seis meses, foi restaurado, transformado em museu e aberto a público para visitas guiadas (toda quarta-feira, às 17h, por $70). Fico imaginando Lorca, Alfonsina Storni, Jorge Luis Borges e Carlos Gardel, entre outras personalidades que já passaram por ali, sentados na mesma mesa onde tomamos nosso copetín.
Nem todo mundo sabe, mas não é preciso ser hóspede do hotel para frequentar seu restaurante, que abre diariamente das 7h às 23h30. A impressão que tive é que o lugar parou no tempo e não evoluiu sua culinária, apresentando os mesmos pratos de outrora. O salão é excessivamente kitsch, com paredes revestidas de mármore, espelhos enormes e pomposas luminárias de bronze e (adivinhe!) mármore. A senhorita que nos atendeu foi muito simpática e explicou que o copetín servido ali levava uma parte de Gancia Red Bitter, outra parte de suco natural de pomelo (espécie de grapefruit ou toranja) espremido na hora e, para completar, água tônica. Bem amargo, gelado e bom!
O teor alcoólico de 30% do Gancia já me deixou “no grau”, e foi nesse clima que caminhamos até o próximo endereço, na Libertad 505, onde fica outro notável de peso: o Petit Colón.
Considerado um dos mais belos de Buenos Aires, o bar e café inaugurado na década de 1970 tem localização privilegiada, pois fica na praça Lavalle, em frente aos Tribunais e ao lado do Teatro Colón. O city tour do Aires Buenos Lado B de Buenos Aires passa todo sábado ali. Assim, é natural que seja ponto de encontro de advogados na hora do almoço e parada obrigatória para antes ou depois de um espetáculo teatral. No menu, aliás, há uma seção que se chama justamente “después de la función”, e que recomenda desde sanduíche de pão árabe tostado a carne suína recheada com ameixa e purê de maçã.
Chegamos faltando meia hora para terminar a promoção da Semana del Copetín. Mas logo entendemos que o drinque servido ali era exatamente o mesmo do hotel Castelar, e achamos que seria um tanto estúpido gastar dinheiro provando mais do mesmo. Quando estávamos quase dando meia-volta, Diego, o garçom mais gentil do universo, foi até a porta e anunciou que a casa poderia nos oferecer qualquer drinque do menu pelo preço da promoção. Para não fugir muito da proposta italiana do Gancia, fomos de Negroni (Campari, Gin, Cinzano Rosso e laranja) e de Bellini (champagne e suco de pêssego), que estavam nota dez.
A decoração do Petit Colón é um espetáculo à parte, com seu papel de parede bordô e dourado combinando com o boiserie escuro, no mesmo tom do mobiliário de madeira. De dia o ambiente tem outra cara por conta da luz que entra pelos janelões, mas à noite o clima é bem sóbrio – ao contrário de nós, que àquela hora já estávamos pra lá de Bagdá.
Sobre a Semana del Copetín, achamos que a proposta teria sido mais interessante se cada bar criasse sua própria versão do aperitivo portenho. De qualquer forma, valeu como desculpa para conhecermos dois lugares clássicos cheios de história. Aproveitamos ainda para brindar ao nosso segundo mês em Buenos Aires, e também pelo fato de o mundo não ter acabado no dia sete de outubro, como diziam as previsões.
Confitería del Hotel Castelar: Avenida de Mayo, 1152 – Centro
Petit Colón: Libertad, 505 – Centro
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Sou jornalista e tradutora brasileira, e há doze anos visito regularmente Buenos Aires. Em agosto de 2015 vim pra cá de mala e cuia para passar uma longa temporada. Livros, cinema e cultura em geral são meus assuntos preferidos. Você pode acompanhar minhas andanças aqui no Aires Buenos e também no Medium.