Como ir embora de Buenos Aires

Pergunto a um amigo brasileiro que também mora em Buenos Aires há alguns anos: se tivesse apenas 24horas na cidade, o que faria?

Ele baixa os olhos, mexe o café com a colherinha e responde: “Passaria cada uma delas chorando e olhando a cidade da janela do ônibus 60”.

É triste, é difícil e a ficha demorou a cair, mas é verdade: depois de três anos vivendo aqui – tão intensamente que parece até mais – estamos indo embora desta cidade que tanto amamos. E, por mais desgraçadamente ridículo que isso soe, voltar pra casa pode ser mais complexo do que partir. Pra quem desembarcou no terminal de retiro em agosto de 2015 com a ideia de um inocente ano sabático, talvez tenhamos ido longe demais.

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Como ir embora de Buenos Aires

Nos últimos tempos, seja pela inflação argentina desvairada, por propostas melhores de trabalho no Brasil ou mesmo por questões pessoais e familiares, alguns de nós, da equipe Aires Buenos, decidimos voltar. Mas uma coisa é certa: continuaremos firmes na ponte-aérea e o bloguito seguirá vivão enquanto houver brasileiros visitando estas plagas e precisando de nossas dicas.

Sim, este é um relato de adiós, de hasta pronto, mas também de gracias totales à ciudad de la furia que nos acolheu com o maior carinho.

Aliás, poucos países do mundo são tão receptivos a estrangeiros como a Argentina. Em pouco mais de um mês já tínhamos residência permanente, documento de identidade nacional, número de CUIT e já podíamos emitir nota fiscal como monotributistas.

E se ficamos o triplo do tempo previsto foi só porque era realmente difícil virar as costas para tantas oportunidades, já que tudo acontece em Buenos Aires (as vantagens de um país hipercentralizado numa só capital).

De modo que de repente nos vimos descobrindo profissões novas e inusitadas, de dubladora de programa de TV a guia de turismo, passando pela experiência inédita de cuidar de uma casa/hotel para estrangeiros em pleno Palermo. E ainda traduzi alguns livros e escrevi uma porção de reportagens para diversos veículos brasileiros (só para o Aires Buenos foram mais de cem!), o que também foi divertido. (Penso que só lembro porque escrevo, e tudo o que lembro ainda amo, de algum modo.)

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Um dos maiores grupos que guiei, no tour Lado B. Foto: Henderson Moret.
Adiós Buenos Aires
Casa de Bulnes: nossa pequena zona autônoma temporária.

Sabendo que seria duro ir embora, programamos a partida em três etapas, pra minimizar a sofrência: primeiro, deixaríamos a Casa de Bulnes, depois a cidade e, só então, o país.

Passamos nossa última semana num apê da calle Borges, e agora viajaremos por Córdoba e o noroeste argentino por cerca de um mês, para nos despedir deste país sem pressa e entrar no nosso devagarinho.

Despachamos nossa mudança pra Puerto Iguazu (obrigada, família, que buscou a tralha toda do outro lado da fronteira, em Foz!) e seguimos estrada com pouca bagagem.

Em tempo: se algum dia você precisar fazer isso, a empresa Crucero Express é dica quente. Nos cobraram em torno de 4mil pesos (menos de 600 reais no câmbio da época) para transportar mais de 200kg!

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Apenas uma parte da mudança.

Como tantos leitores deste blog ao voltar pro Brasil depois de uma viagem a Buenos Aires, sentiremos saudades: de pessoas (deixamos amigos que são família), de lugares (ah, Café Rivas!) e mesmo de certas dinâmicas cotidianas ligadas a estilo de vida, como me sentir tranquila para caminhar sozinha de noitão, frequentar cinemas de rua e ficar até tarde lendo na biblioteca pública (que fica aberta até a meia-noite), tomar suco de pomelo, comprar vinhos Malbec maravilhosos e baratíssimos nos supermercados chineses, cruzar a cidade inteira de bicicleta, já que é plana e segura e cheia de ciclovias, ou pegar o primeiro metrô da América Latina e pagar apenas 10 pesos a passagem. Etc. Etc.

E ainda tem a sensação alentadora de se viver numa sociedade um tiquinho mais igualitária e com prioridades menos mesquinhas do que a brasileira, com mais educação e empatia e cidadania. Sem contar que, convenhamos: como essa cidade é linda!

Adiós Buenos Aires

Adiós Buenos Aires

Adiós Buenos Aires

Buenos Aires, como toda grande metrópole, também é recheada de problemas, mas existe uma liberdade e um vigor aqui que não se acha em toda parte.

Há luta e há poesia, e a arte é tão mais ampla e acessível do que no Brasil, onde parece restrita a uma elite (quantas vezes você foi ao teatro no último ano?).

Sentiremos saudade disso tudo, e também dos jacaradás floridos na Avenida del Libertador em novembro. E das feiras infinitas de fim de semana. E da sagacidade dos grafites portenhos. Ah, do que é que não sentiremos saudade, mesmo?

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Adiós Buenos Aires

Adiós Buenos Aires

Adiós Buenos Aires

E de repente, era eu que me via naquele dilema: o que fazer em apenas 24 horas em Buenos Aires?

Ao invés de chorar cada uma delas a bordo do ônibus 60, como faria meu amigo, procurei desperdiçá-las, de propósito, vagando a esmo por minhas ruas preferidas de Palermo, vadiando por livrarias e cafés e me comovendo com o jeito como pôr do sol amarelava os paralelepípedos da calle El Salvador.

Desperdiçar o tempo, sim. Porque não será o último entardecer, nem a última despedida. Mas a gente vai aprendendo com os portenhos a ser dramático pra caramba.

Adiós Buenos Aires

E não viaje para Buenos Aires sem o nosso super guia: várias dicas organizadas para facilitar a sua vida, além de um roteiro dia-a-dia, com mapa e como chegar aos lugares. 😉

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Confira todas as nossas dicas de hotéis em Buenos Aires. São vários posts com resenhas, melhores bairros e muitas outras dicas.

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7 comentários em “Como ir embora de Buenos Aires”

  1. Acompanhei muito tempo Aires Buenos e quando fui a Buenos Aires a agência muito me ajudou. Um anjo da Aires Buenos foi me buscar no aeroporto e sempre que precisei me socorreu. Através dela fui a Colônia do Sacramento, troquei dólares com segurança, comprei os melhores alfajores. Quanto à Buenos Aires, como não amar esta cidade?

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  2. Texto emocionante, me deu uma saudade imensa dessa cidade linda e de caminhar pelas ruas de Palermo. Bom retorno para vocês!!! E vamos torcer para a Argentina reencontrar o rumo, os hermanos merecem dias melhores

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