Ver um espetáculo musical de qualidade (e de graça!) é sempre bom. Ainda mais se depois o programa estica para um restaurante legal. É por isso que a dupla Usina del Arte + El Obrero é garantia de sucesso nas noites portenhas, contrariando a ideia de que não se deve frequentar o bairro de La Boca depois que o sol se põe.
O duo Usina del Arte e El obrero
Volta e meia escuto alguém dizer que “não tem nada de bom pra fazer em La Boca”, que o bairro é “muito perigoso” e que “quem já conhece não precisa voltar lá”. Crianças, vamos combinar que Buenos Aires não se resume a Palermo-San-Telmo-Recoleta, e que La Boca não é só Caminito e La Bombonera. Uma viagem à capital argentina pode (e deve) ser mais do que comprar tranqueiras na calle Florida, comer parrilla e tirar fotos do obelisco. Uma parte maravilhosa da história e da cultura portenha está aqui, nesse bairro incrível, e se você precisa de uma desculpa pra visitá-lo te damos logo duas.
Inaugurada há apenas cinco anos, a Usina del Arte é um espaço cultural e sala de concertos sediada onde antes funcionava uma antiga usina da CIAE, a Companhia Ítalo-Argentina de Eletricidade. O edifício de tijolos aparentes e arquitetura em estilo florentino foi construído entre 1912 e 1916, mas na gestão do ex-presidente Carlos Menem a usina foi abandonada e assim ficou por mais de uma década, até surgir em 2000 o projeto de revitalizá-la com novo uso.
O lugar tem uma das melhores salas de câmara da capital, com capacidade para 1.200 pessoas e acústica assinada pelo mesmo estúdio que restaurou o Teatro Colón. Todas as atividades que acontecem ali têm entrada gratuita, e a programação costuma ser excelente. Também é possível fazer visitas guiadas conhecendo mais detalhes da história do lugar. Veja tudo no site oficial deles http://www.usinadelarte.org/
Quando os concertos terminam, é de praxe sair às carreiras pela escadaria, cruzar a calle Agustín R. Caffarena e entrar no número 64 em busca de uma mesa.
O restaurante El Obrero é um típico bodegón, desses que abundam pela zona sul da cidade, só que por ter uma comida pra lá de honesta, um ambiente pitoresco e por ser absolutamente low profile, começou a atrair gente de tudo quanto é lado, inclusive celebridades. “O que Susan Sarandon, Bono Vox, Maradona e Coppola teriam em comum? Todos já comeram no El Obrero, o ‘Santo Graal’ dos entendidos em bifes”, dizia um artigo publicado anos atrás no jornal inglês The Guardian.
Quando foi aberto em 1954 por dois irmãos imigrantes das Astúrias, porém, a casa era frequentada apenas por trabalhadores do bairro (obrero significa “operário” em espanhol). Eram funcionários do porto, de frigoríficos e de fábricas instaladas nas redondezas, em geral homens que se juntavam para beber, falar alto, jogar carteado e, eventualmente, quebrar o pau.
A clientela começou a mudar nos anos 80, quando a esposa do dono foi trabalhar lá e botou “ordem” no pedaço, dando um clima mais familiar. A comida não mudou muito: há sopas, massas, tortillas, o famoso Revuelto Gramajo todo tipo de parrilla e até peixe, o que costuma ser raro em Buenos Aires. Existe essa associação inevitável entre o porto e frutos do mar, o que torna comum os restaurantes de La Boca servirem peixe e outras delícias marítimas (embora ali tenha rio, e não mar!), enquanto nos demais bairros da capital a cultura é essencialmente carnívora. Quando vou ao Obrero, costumo pedir Brótola al roquefort e nunca me arrependo. O prato é bem servido e dá pra compartilhar. Já a sobremesa clássica da casa é o pavê de baunilha, mas por enquanto eu só conheço sua fama. Aliás, se você for e pedir uma, conta pra gente nos comentários aí embaixo? 🙂
Em meio à decoração kitsch do lugar, enquanto os comensais comem e os bebedores bebem, um senhor de idade bem avançada costuma passar pelas mesas cantando e tocando tango no violão. Quase toda noite ele está por lá. Guarde uns pesos pra ele, que vai ficar feliz e quem sabe te faça uma pequena serenata particular.
Serviço:
Usina del Arte – Agustín R. Caffarena, esquina com Pedro de Mendoza, La Boca.
El Obrero – Agustín R. Caffarena, 64. De segunda a sábado de 12h às 16h e das 20h até último cliente. Atenção: não abre nos domingos. Só aceita dinheiro.
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La Bombonera, conheça a mítica casa do Boca Juniors.
Caminito, o que tem de bom lá?
Fundación Proa, um museu lindíssimo do lado do Caminito
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Confira todas as nossas dicas de hotéis em Buenos Aires. São vários posts com resenhas, melhores bairros e muitas outras dicas.
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Sou jornalista e tradutora brasileira, e há doze anos visito regularmente Buenos Aires. Em agosto de 2015 vim pra cá de mala e cuia para passar uma longa temporada. Livros, cinema e cultura em geral são meus assuntos preferidos. Você pode acompanhar minhas andanças aqui no Aires Buenos e também no Medium.